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sábado, 26 de junho de 2010

Por onde andas a Denise Frossard?



Nas eleições de 2006, fiquei muito feliz pela candidatura da então Deputada Federal Denise Frossard ao Governo do Rio de Janeiro. Para quem não se lembra, ela foi Juíza de Direito do Estado do Rio de Janeiro, foi jurada de morte várias vezes depois que mandou prender diversos contraventores do jogo do bicho no Estado. Além do mais, quando Deputada Federal, atuou com louvor na câmara dos deputados, em especial, quando atuou na CPI dos Correios. Pois bem pessoal, estava eu navegando na net e encontrei uma entrevista dela, para o site da Revista TPM http://revistatpm.uol.com.br/47/vermelhas/01.htm. Muito interessante saber um pouco mais de uma figura ilustre e que atuou ao longo do seu mandato como deputada federal e como Juíza. Agora a pergunta, por onde andas Denise Frossard?

Segue a entrevista dela conforme o link acima.

Você vem de uma família de classe média tradicional?
Denise. Totalmente. Almoço e jantar na mesa. Meu pai era italiano, e minha mãe, suíça. A parte suíça da família era enorme. Minha mãe tinha 15 irmãos. Todos no Brasil. E a família dela, apesar de suíça, era muito divertida. Porque os suíços, ao contrário dos italianos, são uns chatos. Ainda mais suíço-alemão, sem senso de humor. Mas eles não. Eles eram muito bonitos, tipo o [senador Eduardo] Suplicy [risos]. O meu avô plantava café, então nessas idas e vindas do café ele faliu umas cinco vezes. Quando nasci ele estava falido, olha que azar.

Isso em Minas?
Em Carangola, uma cidadezinha mineira.

Estudou em escola pública?
Minha mãe fez questão de colocar meu irmão e eu em escola pública, em uma classe de negros. 

Como assim classe de negros?
Havia apartheid em Minas, na minha cidade. Vocês pensam que eu não vivi isso, mas eu vivi. 
O pessoal devia achar sua mãe uma louca.
É. [Faz uma longa pausa, fica emocionada, chora] Minha mãe se matou. Quando ela tinha trinta e poucos anos.

Você tinha quantos anos?
12 [Denise chora, tira os óculos, passa as mãos no rosto, levanta, pega o guardanapo da mesa ao lado e começa a enxugar as lágrimas].

Você é o que é por causa disso?
Você tirou as palavras da minha boca. O que não te derruba te deixa mais forte. Mas a figura de meu pai também foi muito importante na minha vida. Ele nasceu na terra de Pavarotti. Era motociclista, alegre, cheio de vida. Vivia repetindo, enquanto tomava um vinho: “A bebida só é ruim quando é pouca”. Uma figuraça. Era comerciante e um cara que gostava de tudo o que era perigoso, um companheirão.

Você é destemida desde criança, tipo encrenqueira?
Meu irmão, que é quatro anos mais velho, evitava sair comigo à noite, para ir ao cinema ou coisas assim, porque ele dizia que eu só arrumava confusão na rua. Mas não era isso, é que eu não gostava das coisas erradas e de injustiça. Então, se via uma coisa dessas, me manifestava. E nunca levava desaforo para casa. Vez ou outra sobrava para ele.


Com quantos anos você saiu de Carangola?
Com 18. Fui fazer faculdade de direito no Rio de Janeiro. Mas primeiro fiz dois anos de filosofia em Belo Horizonte. Lembro de conversar com minha mãe sobre isso quando era menor, e ela dizer que para fazer filosofia eu teria que saber falar alemão. Isso ficou na minha cabeça e eu quis fazer quase como homenagem a ela. E o meu pai dizia: “Meu Deus do céu, que profissão é essa?”. Meu pai era um pragmático, não teve uma formação acadêmica, não teve estudo.

E a vontade de ser juíza veio na faculdade?
Sabia que seria antes de entrar na faculdade de direito. Sempre fui de planejar.

E por quê? Idealismo?
Talvez. Eu sempre tive muito bom senso e sabia que esse bom senso poderia ser usado para resolver conflitos. O que é um juiz? É um servidor público que resolve os conflitos quando as pessoas não conseguem mais resolvê-los.

O que você aprendeu sobre o ser humano lidando com bandidos?

Eu tinha acesso a um mundo curioso porque é onde a sociedade vomita e não quer ver. Os presídios, o mundo da criminalidade. Comecei a ver o que é o presídio, o desfilar na minha frente sempre de pretos, pobres de sandálias de dedo. Até o ponto em que era inverno e eles chegavam de bermudas, a única roupa que tinham. Se um estrangeiro olha o presídio acha que no Brasil todos os pretos e pobres são criminosos que atacam a classe de brancos e ricos, todos inocentes. Porque o que você vê na cadeia é isso. Aí você vê o que é a distorção no nosso sistema. Você vê a faixa etária de 18 a 24 anos, 90% homens, pretos, pardos etc. Acesso à Justiça, eles não têm.

É um mundo paralelo?
Quando damos de cara com essa situação muda um pouco a perspectiva que se tem do mundo. Outro dia eu voltei ao presídio como deputada. Foi engraçado, encontrei vários “meus” lá. Meus réus. “Ó, doutora, o que tá fazendo aqui?” Eu disse: “Meu Deus do céu, o que você ainda está fazendo aí, Zé Valdo?”. “Eu tenho 21 homicídios só, lembra?” “Lembro, mas achei que você já tivesse saído.” Foi esse o diálogo.

Tem diferença entre o Zé Valdo e os Zé Dirceus, Genoínos?
Essa gente, Genoíno, Delúbio, Dirceu, é uma gente asquerosa.

O Zé Valdo é melhor ser humano?

Os meus réus? Sem dúvida alguma. Zé Valdo, por exemplo, é um sujeito de senso moral tão elevado que ele mata. Faz justiça pelas próprias mãos. É perigosíssimo. Eu dizia para ele: “Zé Valdo, você não pode sair, meu filho. Você não entende o mundo. Você sai e mata, faz justiça pelas próprias mãos”. Ele respondia: “Quando a senhora me explica, eu entendo. Mas saio e mato de novo”. E é assim.




Como você teve coragem de condenar os bicheiros? [Em 1993, a então juíza Denise Frossard fez fama internacional ao condenar à prisão a cúpula do jogo do bicho carioca.]
O processo foi para as minhas mãos em 91. Chamei o promotor e disse: “Meu filho, o que é isso aqui? Vocês querem que eu dê uma sentença dissolutória nisso aqui? Querem que eu dê um atestado para essa gente? Gente que até cães, gatos e dromedários sabem que são criminosos, que mataram, roubaram?”. Aí o promotor disse: “Para mim não dá mais”. E saiu do processo. Por quê? Porque os bicheiros tinham sido recebidos no palácio pelo então governador Moreira Franco com honrarias. Palácio que nenhum de nós jamais tinha entrado. Então, num dia, você está ali, lutando, trabalhando em três varas, condenando pés-de-chinelo e de repente você olha aqueles caras que mataram, roubaram e botaram o processo para ser queimado em bandeja de prata. Então eu disse ao promotor: “Meu filho, isso aqui é uma afronta! O processo está bom, mas o Ministério Público tem que reunir provas. Vá à luta!”.

Você foi ameaçada de morte?
Essa gente não ameaça, essa gente jura de morte e mata. Sofri três atentados.

Como foram esses atentados?
O primeiro foi no dia da sentença. Fiquei uma semana recolhida num lugar que só o desembargador sabia. No dia da leitura da sentença o desembargador mandou o carro da segurança me pegar. Curiosamente, depois descobri que o chefe da segurança estava envolvido. Um coronel, um oficial superior. Mas eu já desconfiava.

E aí?
Então eu disse: “Coronel, eu vou dirigindo o meu carro”. E aí ele: “O carro da senhora vai na frente e o dos seguranças vai atrás”. E eu: “Pera lá, como é que é isso? Coronel, sempre soube que o carro da frente era o carro do sacrifício. Qual é mesmo o carro que vai à frente?”, e ele disse: “O meu”. E eu falei: “Não esperava outro”. Aí eu já sabia que ele estava envolvido. Fomos, mas, quando cheguei lá, não fui para a garagem coberta dos magistrados. Os carros da segurança iriam para lá. Eu pensei: “Para lá é que eu não vou”. Enquanto os carros se dirigiram para outra porta, cortei, entrei à esquerda, em um outro estacionamento, que não tinha ninguém.

E o que havia na outra garagem?
Lá estavam todos os policiais, um deles com um explosivo aqui [mostra a cintura] e uma granada na mão. Esse ia me abraçar. Como não fui para lá, ele foi preso. Isso foi denunciado e mataram o sujeito. Ele era um policial que trabalhava para os bicheiros.

Mas ele ia morrer junto?
Era um atentado suicida. Um homem-bomba.

Você mora em Brasília ou no Rio de Janeiro?
Moro no Rio de Janeiro, na Lagoa.

Sozinha?
Moro. Sempre morei.

Já casou?
Casar, casar, não. Tive a vida normal afetiva, agora, casar, não. A minha família não é muito chegada a casamento.

Como é sua rotina no Rio?

Tênis, em primeiro lugar o tênis. Levanto, jogo, e aí vou tomar café-da-manhã e ler os jornais lá no Leblon. Vou de roupa de tênis mesmo. Compro os jornais na Letras e Expressões e vou pro Garcia e Rodrigues, sento e peço mamão e queijo. Depois, com roupa de tênis e a raquete pendurada, vou no hortifrúti e faço compras. Em casa, ligo pros amigos pra saber onde vamos almoçar, na casa de quem, ou se vamos sair.

E religião?
Sou católica.

Você já teve vontade de ter filhos?
Tive, lá atrás, mas resolvi adiar um pouco. Só que chega um ponto que não dá mais. Mas o fato é que eu acabei criando três.

Três?
Não, não. Quatro. O primeiro foi o filho de um amigo que morreu. Antes de morrer ele me disse: “Se eu morrer, você cuida?”. Hoje o rapaz é oficial do Exército. Eu cuidei quando ele estava começando no colégio militar. Quer dizer, ele já era grandinho.

E os outros?
Os três filhos do meu irmão, que sempre foram muito ligados a mim.

Quais são seus planos políticos?
Eu serei a próxima governadora do Estado do Rio de Janeiro.


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Eu gostaria muito que ela fosse eleita, mas não deu. Depois disso parece que ela deixou a política de lado.

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